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O QUE É BIODIVERSIDADE?
Talvez a palavra biodiversidade (ou Diversidade Biológica) seja uma
das mais conhecidas e utilizadas quando estamos tratando de
preservação da natureza, sendo um ponto central na Biologia da
Conservação. Entretanto, o que significa, de fato, biodiversidade?
Existem muitas definições, formuladas por diferentes pessoas e
órgãos políticos, sociais e ambientais; entretanto, a estrutura e os
caminhos que levaram ao estabelecimento desse conceito são
relativamente semelhantes.
O conceito de biodiversidade procura integrar toda a variedade que
encontramos em organismos vivos, nos mais diferentes níveis. Uma
das definições mais abrangentes é a do Fundo Mundial para a
Natureza (1989): “Biodiversidade é a riqueza de vida na Terra, os
milhões de plantas, animais e microorganismos, os genes que eles
contêm e os intrincados ecossistemas que eles ajudam a construir no
meio ambiente”. Outros órgãos a definiram como: “a totalidade de
genes, espécies e ecossistemas de uma região e do mundo”
(Estratégia Global de Biodiversidade); ou “a variedade de vida no
A palavra Biodiversidade tornou-se conhecida a partir de um encontro realizado nos Estados Unidos (National Forum on BioDiversity), cujos trabalhos foram publicados em 1988 num livro
chamado Biodiversity, organizado pelo ecólogo
Edward O. Wilson, da Universidade de Harvard. Em 1997, este livro foi traduzido para a língua portuguesa, sendo intitulado Biodiversidade.
O planeta terra, incluindo a variedade genética dentro das populações e espécies, a variedade de espécies da flora, da fauna e de microrganismos, a variedade de funções ecológicas desempenhadas pelos organismos nos ecossistemas; e a variedade de comunidades, habitats e ecossistemas formados pelos organismos” (MMA). Até o momento, um dos principais compromissos firmado pela maioria das nações do mundo para buscar a conservação da biodiversidade foi a Convenção da Diversidade Biológica, apresentada na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD ou ECO-92), no Rio de Janeiro. Nessa convenção, definiu-se biodiversidade como “a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas” (CDB, Artigo 2). Como você pôde notar, as definições de biodiversidade abrangem diferentes níveis de organização da vida, desde genes, passando por organismos, populações e espécies, até chegar ao nível de comunidade e ecossistema, formando uma certa hierarquia. Além disto, vale ressaltar que muitas das definições não consideram biodiversidade como apenas um conjunto de componentes independentes e isolados. De fato, é de suma importância levar em consideração a maneira como esses componentes estão organizados e interligados através de processos ecológicos que mantêm sua estrutura e funcionamento.

Antes de prosseguirmos com nosso estudo sobre biodiversidade, devemos considerar, portanto, que um primeiro passo para a elaboração de qualquer suposição ou mesmo soluções em Biologia da Conservação é o entendimento de aspectos básicos acerca do que estamos estudando e buscando. Nesse contexto, fazem-se necessárias a definição e a interpretação corretas de conceitos como espécie, população, comunidade biótica, ecossistema, dentre outros. Apesar das diversas definições atribuídas a cada um desses conceitos – muitas vezes devido à existência de diferentes escolas e linhas de pensamento (por vezes bastante controversas) – em geral podemos identificá-las com alguma precisão e coerência.
Afinal, o que é espécie?
Dizemos que organismos pertencentes a uma mesma espécie são aqueles que estão (ou ao menos têm o potencial de estar) se intercruzando em condições naturais e gerando prole fértil, além de estarem reprodutivamente isolados de outros grupos. Esta é uma definição de espécie biológica (ou bioespécie) proposta pelos biólogos Mayr e Dobzhansky na década de 1940.

Trata-se de uma ótima definição; no entanto, apresenta alguns problemas:

I) apesar de ser muito bem aplicada para alguns grupos de animais e plantas, para algumas populações nas quais ocorra certa quantidade de hibridização ou em que a reprodução é exclusivamente assexuada (como a maioria dos microorganismos), o conceito biológico de espécie torna-se não funcional;

II) testar empiricamente a viabilidade reprodutiva da prole, ou mesmo da própria geração em questão, é muitas vezes inviável, seja por restrições financeiras, logísticas, ou simplesmente temporais. Com isso, na grande maioria dos estudos em biologia, outras definições de espécie são utilizadas, sendo essas baseadas em diferenças morfológicas (ultimamente, também genéticas) entre organismos consideradas suficientemente grandes para tratá-los como espécies diferentes, independentemente de uma separação reprodutiva. Chamados de morfoespécie um determinado organismo que ainda não foi identificado e oficialmente nomeado pelos taxonomistas.
Essa incapacidade de distinguir claramente uma espécie da outra, seja devido às semelhanças de características ou devido à confusão sobre o nome científico correto, atrasa freqüentemente os esforços de preservação das espécies. Isto se torna um problema ainda mais grave em áreas de alta diversidade, como nos países tropicais em geral e, em particular, no Brasil.
Além da nomeação das espécies já conhecidas, ainda é necessário muito trabalho para catalogar organismos totalmente desconhecidos pela ciência. Atualmente são conhecidas, em todo o mundo, aproximadamente 1,7 milhão de espécies. Entretanto, estimativas apontam para um total que pode variar de 5 a 100 milhões, ou seja,
É extremamente difícil fazer leis precisas e eficazes para proteger uma espécie quando não se tem certeza do nome pela qual deve ser chamada!

os taxonomistas teriam apenas descrito cerca de 2 a 30% das espécies existentes no planeta. Ainda é interessante (e triste!) notar que muitas destas podem ser extintas antes mesmo de serem conhecidas. Quando analisamos restritamente algumas regiões, é possível perceber que o desconhecimento é ainda maior. Por exemplo, supõe-se que cerca de apenas 1% da diversidade de espécies da Amazônia seja conhecido.
Uma das grandes causas dessa escassez de informações é o número insuficiente de taxonomistas e, ainda pior, sua distribuição restrita. É impressionante como isso pode influenciar no que sabemos sobre a distribuição e diversidade de espécies nos diferentes locais da Terra! Um exemplo bastante interessante é a distribuição de espécies de libélulas (ordem Odonata) no Brasil. Os locais de maior diversidade de espécies desse grupo são o Sudeste e algumas regiões no meio da Amazônia, próximas à cidade de Manaus. Serão mesmo essas as áreas com maior diversidade de libélulas? Na verdade, esses são justamente os locais onde houve mais expedições científicas em busca do grupo e onde se situam as instituições de pesquisa com os maiores especialistas em libélula. Curioso, não? Portanto, antes de qualquer coisa, precisamos urgentemente do conhecimento básico sobre quais são e onde estão as espécies que queremos conservar!!!